No ultimo texto deste blog sobre a corrida do Japão o
tetra campeonato do alemão Sebastian Vettel no Grande prêmio da Índia já era
previsto, o que de fato aconteceu. Depois disso, mais três corridas ainda restavam
para serem realizadas no campeonato e talvez nada tivesse mais graça. Porém,
todo gênio faz uma coisa diferente para manter a expectativa do publico. Todo
fora de série inventa algo para impressionar os fãs e manter a audiência, além
de produzir matéria para as mídias.
Sebastian Vettel em um ato pensado ou não, ninguém tem
certeza, comemorou seu quarto campeonato na Índia fazendo zerinhos na reta principal,
desrespeitando as normas da FIA, quebrando o protocolo, fazendo o que o publico
presente ou pela TV deseja. Uma emoção diferente.
A punição e absorção da multa
pela Red Bull fez elevar o tom do “Sebastian, great job”. Mais do que isso,
gastar 50 mil em qualquer moeda e ver sua marca rodar o mundo com um gênio
fazendo acrobacia, vale muito mais do que obedecer um grupo que quer tomar chá Inglês
nas pistas. Isto é marketing, isto é negócio, isto vai de encontro ao slogan “te dá asas” relacionado ao nome da equipe de Vettel.
E isto é SHOW, isto é Formula um.
Para nós, nobres mortais que esperávamos a ultima corrida
do ano e a decisão do campeonato em Interlagos, os ânimos quase se abrandaram. Os
comentários dos “leigos”, chamemo-nos assim, eram: “ Vai ver o que lá? O campeonato acabou.” ou “ Tem graça ver alguma coisa que não vale nada?”, estas entre
outras frases soavam e doíam como as chicotadas no lombo de um escravo para ele
desistir do seu sonho de liberdade.
E Nós, meros escravos da paixão pela velocidade éramos
estimulados pela sequência de zerinhos do alemão Vettel a cada vitória. A visão
do tetra campeão rodopiando, bailando, domando uma máquina ali, na frente da
arquibancada no setor A, onde ficamos 3 dias com sol, chuva, frio, cerveja quente e
churrasquinho sem sal e caro diga-se de passagem, se tornava cada vez mais real. Veio Abu Dabhi e Austin, Vettel venceu com seus zerinhos.
Só faltava Interlagos.
Interlagos que este ano estava vazio para os padrões da
corrida. O setor A folgado, o G que sempre lota, com apenas alguns amontoados
de gente, dava pra ver a estrutura metálica da arquibancada. Os ingressos em
abundância e apenas dois setores esgotados. Os portões que sempre abrem antes do horário marcado,
este ano abriram no horário. Ou seja, tudo preparado para um evento abaixo da
expectativa.
A torcida sem
noção pensou em fazer uma faixa com os dizeres: “Vettel and others give us
DONUTS.” Mas, se não temos tempo pra escrever, que dirá fazer faixa. Estávamos
preocupados com as camisas, a logística da fila e do lugares, as punições
convertidas em piadas e cervejas e as homenagens aos que sofreram perdas
eternas ou temporárias.Todas as nossas preocupações foram resolvidas. Camisas
prontas, fila pequena, lugar reservado, cerveja a beça e homenagens
feitas. Só que para todo sacrifício, toda dor e todo empenho, existe uma recompensa.
Para nós da torcida sem noção ela veio em três momentos ímpares no domingo.
1. Webber
sem capacete e sua cara ao vento.
2. As
meias luas do Felipe Massa na Ferrari há uns 50 metros da gente, sim, meia lua,
zerinho ele fez em 2011.
3. Para
coroar uma corrida morna, para coroar mais um ano de alegria e felicidade, eis
que lá vem ele o tetra campeão, o alemão abusado, que dá nome de mulher a todos
os seus carros, conduzindo sua RB9 chamada de “Hungry Heidi” (“Heidi Faminta”, em português), docilmente até que
em nossa frente entre um piscar de olho e a ação de buscar o celular para
filmar, tirou sua máquina para dançar. Foram cinco zerinhos. Nos nossos ouvidos
o som do motor alto e nas nossas narinas o cheiro da fumaça dos pneus. Típica
cena de festa de 15 anos. Troque o barulho do motor pela valsa e a fumaça dos
pneus pela do gelo.
Estávamos nós lá, presenciando o show que gostamos de
ver, presenciando momentos impares que os “leigos” não sabem que existem, ou sabem e não se importam. Estávamos
lá, cada um a sua maneira, alegres e felizes. Uma chorando copiosamente por 30
minutos, outros com as mãos marcadas e manchadas de sangue devido à invasão da
pista. Vários gritando e se abraçando com a alegria e o sorriso que ninguém e
nem o ingresso mais caro, o do paddock pode pagar.
Isto amigos, a televisão não mostra, os jornais e sites
não falam, os “leigos” debocham e nós vivemos. São três dias que valem pelos outros
trezentos e sessenta e dois de cada ano de espera. Bom, menos para aqueles que
não querem viver.
Por:
Ávilas Rocha
1 comentários:
Esse texto resume o que foi nosso fim de semana em Interlagos. Simplesmente fantástico!
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